Os dois países que não foram colonizados por europeus

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Anteriormente falamos da partilha da África feita pelas nações imperialistas e de alguns casos específicos. No entanto, o continente africano não foi 100% colonizado e subjugado. Dois países singulares, a Etiópia e a Libéria, permaneceram livres do domínio militar europeu e carregam histórias de chamar a atenção.
- Etiópia
Embora a Etiópia – a qual antes era o Império Etíope – tenha permanecido independente no século XIX, não faltaram tentativas por parte dos europeus de conquistá-la.
A Itália foi a mais “insistente” e tinha “sede” por uma colônia. Unificada em 1880, a Itália estava atrasada na corrida imperialista e precisava conquistar os reinos africanos a fim de ser tão poderosa quanto outras nações europeias. Assim, após conquistar a Eritreia, os italianos logo voltaram seus olhos ao Império Etíope, o qual era o antigo dominador da Eritreia, e tentou subjugá-lo a luta armada. Porém, em 1887, apoiados pelos ingleses, os italianos invadem a Etiópia e acabam sendo severamente derrotados – numa batalha que ficou conhecida como a Batalha de Dogali.
Apesar da derrota recente, a Itália tenta novamente se apossar do território etíope, dessa vez de forma cautelosa e estratégica. O Rei Menelik II, imperador da Etiópia, estava enfrentando uma série de dificuldades: além de epidemias e a falta de alimentos que se alastravam pelo território, uma crise política perdurava. Pois quando o último imperador, Yohannes IV, estava prestes a morrer ele assumiu que o seu sobrinho era na verdade seu filho, então ele deveria ser seu sucessor. Contudo, as tribos do Império – as quais tinham poder político e financeiro – questionaram essa história repentina e não aceitaram. Assim, o Rei Menelik torna-se sucessor de Yohannes, sofrendo críticas e retaliações.
Portanto, para ganhar reconhecimento como imperador e força para combater possíveis julgamentos, Menelik II assina em 1889 o Tratado de Wuchale, o qual determinava que, em troca da região da Eritreia, os italianos deveriam entregar alimentos e suprimentos militares. No entanto, ocorre-se uma confusão que terminará de maneira violenta: a versão do tratado em amárico (língua falada pelos etíopes) afirmava que os serviços diplomáticos da Itália poderiam ser utilizados pela Etiópia, enquanto a versão italiana dizia que Menelik era obrigado a usar esses serviços, tornando a Etiópia um protetorado italiano – uma colônia.
Contudo, em 1893, o rei declara o acordo inválido e, em 1895, a Itália declara guerra à Etiópia. Os italianos perderam novamente, e logo se espalhou o medo de enfrentar os poderosos etíopes. A partir daí, a Etiópia finalmente conseguiu o reconhecimento internacional como nação e permaneceu livre e independente.

- Libéria
Se o sucesso da Etiópia te surpreendeu, o caso da Libéria te surpreenderá ainda mais. Isso porque, diferente dos outros países do continente africano – que antes eram antigos reinos e impérios -, a Libéria somente surgiu em 1822, fundada pela American Colonization Society (Sociedade Americana de Colonização). Essa organização estadunidense, a qual era financiada pelo presidente vigente James Monroe, tinha o objetivo de estabelecer na nova colônia afro-americanos livres, que fugiam da escravidão e do racismo. No entanto, alguns historiadores acreditam que o real motivo da ACS era impedir a miscigenação do país, pois, de acordo com as teorias pseudocientíficas que surgiam na época – como o Darwinismo social -, pessoas de cor negra tinha uma capacidade intelectual menor do que as pessoas de cor branca. Mas hoje sabemos que esse pensamento é racista e não tem argumentos científicos para existir.
Então, fundada a capital Monrávia e delimitado o território do país, os imigrantes começaram a chegar em peso. Pessoas de todos os lugares migraram para a Libéria - Estados Unidos, Barbados e Congo -, e, em 1847, a Libéria se torna independente, tendo Joseph Jenkins (figura abaixo) como primeiro presidente. Nasce assim uma nação completamente complexa e diversificada, mas que tentava a todo custo integrar aquelas pessoas tão diferentes entre si. Cristãos e muçulmanos, povos africanos e afro-americanos, oriente e ocidente em um mesmo país.

A Libéria adotou uma política e economia bastante similar à antiga metrópole, os Estados Unidos, e expandiu seu território rapidamente. Contudo, as divergências entre os grupos sociais impediam que o território fosse unificado de fato, dando “brechas” para os países europeus atacarem o país. França e Inglaterra logo voltaram seus olhos para o comércio que a Libéria fazia com outros países e apossaram-se de alguns territórios. Os dois países continuavam ameaçando a Libéria e anexando partes do seu território. Assim, com vários acordos diplomáticos e ações estratégicas, o governo da Libéria, embora tenha sofrido derrotas e perdas, sobreviveu e conseguiu permanecer com sua autonomia.
