“No Dia 8 de Dezembro, Eu Vou Jogar Flores no Mar ...”
Maria Isabel Pia dos Santos
Doutoranda em Ciências das Religiões (PPGCR/UFPB).
Integrante do Grupo de Pesquisa RAÍZES (PPGCR/UFPB-CNPq).
É manhã do dia 8 de dezembro de 2019, dia de Iemanjá em João Pessoa, capital da Paraíba, região Nordeste do Brasil. Andando pelas areias da praia, vemos suas oferendas, suas flores, suas rosas que anunciam o seu dia na cidade pessoense. A beira mar do Cabo Branco, sob a brisa leve da Rainha do Mar, palco montado e ornamentado, com suas cores azul e branco, para logo mais à noite a 54ª festa pública acontecer, organizada pela Federação dos Cultos Afro-brasileiros do Estado da Paraíba (FCAB-PB), presidida pela Ialorixá Mãe Penha de Iemanjá. Trata-se de uma festa tradicional que acontece há mais de 50 anos na cidade e que reúne terreiros paraibanos e população local. Este ensaio fotográfico registra o momento que antecede a caminhada que sai do terreiro Palácio Xangô Alafim até o local da festa, a praia cheia, o coro de vozes e os sons dos atabaques dos terreiros, que se apresentam no palco e, em seguida, saem para deixar oferendas no mar para Iemanjá.
Os registros fotográficos demonstram as práticas religiosas destes grupos através das oferendas deixadas pelos adeptos/as, e do palco, como espaço de representação e visibilidade pública do orixá cultuado, Iemanjá, e seu traços característicos, dentre outros aspectos. Trata-se de uma “festa para além dos terreiros” . Em outras palavras, A Festa de Iemanjá perpassa os espaços dos terreiros e torna-se presente no espaço público local, anteriormente, marcado pela repressão até metade da década de 1960. Festejam-se o culto a Iemanjá e também a liberdade religiosa. A saída de um contexto de repressão para a liberdade
religiosa dos terreiros na Paraíba se concretizou em 06 de novembro de 1966, com a Lei nº3.443, promulgada pelo governador João Agripino. Com a liberdade religiosa, ocorreu aprimeira festa pública de Iemanjá como celebração também dessa liberdade, foi organizada pela Federação dos Cultos Africanos do Estado da Paraíba (FECAP), presidida pelo babalorixá Carlos Leal Rodrigues, em 08 de dezembro de 1966, na praia de Tambaú. A partir desta data, passou a ser celebrada todos os anos na orla paraibana.
Entende-se a festa como manifestação cultural e religiosa, pública, que fornecem uma chave de leitura acerca do fenômeno religioso, tanto numa perspectiva passada e/ou presente, constituindo-se como registros de práticas religiosas de grupos sociais. Outrossim, a festa é um elemento significativo de representação de crenças, resistências, perpetuações de tradições dos grupos que as constituem. São através dos espaços públicos que se têm visibilidade e reafirmação da celebração da “memória coletiva”, da identidade e da divindade cultuada.