Os caminhos trilhados para a edificação da Nação e dos Estados independentes em contextos africanos é plural. A construção da Nação passou por momentos distintos para os casos africanos de colonização portuguesa, como os de São-Tomé e Príncipe, da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola ou Moçambique. As lutas de libertação iniciadas nos anos 1960 foram promovidas por grupos como o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o Movimento pela Libertação de Angola (MPLA) ou a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Após a Revolução dos Cravos, em 1974, que colocou fim ao regime autoritário em Portugal, e a conquista das independências, em 1975, iniciou-se um segundo momento, marcado pela implementação das políticas de construção dos Estados nacionais independentes.
Ao longo da história, foram forjadas variadas maneiras de criar a Nação e construir o aparelho estatal. No entanto, não devemos confundir a criação de estruturas de um Estado moderno com a promoção da identidade nacional. Para os contextos africanos, os projetos propostos pelo PAIGC, MPLA e FRELIMO, que assumiram a dianteira na construção do Estado nacional, constituem dimensões particulares desse processo. Outras são as da própria identidade nacional desses países, que passou – e ainda passa – por variadas disputas. A heterogeneidade populacional dos espaços geográficos angolanos, guineenses, cabo verdianos ou moçambicanos, de maneira geral, foram compreendidas pelos movimentos de libertação como um obstáculo para a elaboração de uma singularidade que representasse o “povo”. No pós-independência, o elencar de heróis e heroínas, datas comemorativas, símbolos, ou uma forma específica de pensamento político, promovidas pelos grupos vitoriosos das lutas de independência, que assumiram para si a empreitada de construir o Estado nacional e de forjar uma identidade nacional específica, esforçaram-se por apagar e marginalizar demandas divergentes. Deslegitimando-as como étnicas, regionais ou “obscurantistas”, o cerceamento da heterogeneidade causou marcas traumáticas em vários grupos populacionais.